sexta-feira, 18 de maio de 2012

World Press Photo: Telas da Realidade

As portas abertas indicam o caminho a seguir. Um único foco. Uma fotografia, dentro de centenas. O corpo quieto. Apenas os olhos se movimentam, de um lado para o outro, a contemplar tudo o que há para ver. Uma fotografia, dentro de centenas, e uma viagem pelo mundo do fotojornalismo.


  Sábado, quatro da tarde. Tudo ou nada para fazer. Hora de tomar uma opção. A escolha de uma tarde fora da rotina. Um sábado que pede para deixar o sofá. E viajar até Belém. O rio Tejo serve como plano de fundo, e o Museu da Eletricidade como casa da 55ºedição da World Press Photo.
  Chega finalmente a hora. O bilhete na mão, a espera que acaba. As portas abertas indicam o caminho a seguir. Em frente e à esquerda. Um lance de escadas e a exposição aos nossos olhos. A fotografia vencedora do concurso marca o início daquilo que é uma viagem pelo fotojornalismo. Uma mulher que segura um familiar vítima dos confrontos no Iémen. O fotógrafo? Samuel Aranda. Uma imagem que, por mais cliché que pareça, vale mais do que mil palavras. Uma imagem que deixa desde logo uma previsão daquilo que se espera ao longo dos corredores.
  As paredes roxas enchem-se de fotografias. Por temas, por categorias, por fotógrafos. Os olhos não saem da parede, não despregam das fotografias e não percebem como alguém consegue ter captado momentos tão únicos. Ao longo do caminho vêem-se as caras de surpresa, os olhares de indignação, a vontade de, por vezes, ignorar o que está na tela. Porque é demasiado. Os murmúrios voam pela sala. Uma mulher olha para o marido e diz: “isto vai dar pesadelos”. Uma jovem não hesita em afirmar: “a pessoa assusta-se!”.        Não o é preciso seguir uma ordem, mas acaba-se por seguir a maré. As fotografias na parede dizem-nos para onde olhar, por onde ir. Em cada tela uma multidão de pessoas a ver. Os confrontos no Médio Oriente parecem ser o tema recorrente. Guerras, revoltas, manifestações. Aproximo-me de um homem que parecia indignado com tudo o que via. A mão no queixo, os olhos semicerrados. Perguntei-lhe o que lhe fazia confusão. Olhou para mim e simplesmente me disse: “é pena o acontecimento do ano ser a guerra”.
  Mas basta andar umas quantas fotografias e o tema muda. Não para melhor. O tsunami e o terramoto no Japão marcam a sua presença na exposição. Uma mulher sentada a chorar no meio de destroços, uma família num carro a deixar a destruição para trás, um barco em cima de uma casa. Fotografias que não deixam ninguém indiferente. Nomes como Yasuyoshi Chiba, Koichiro Tezuka, Paolo Pelligrin, Lars Landqvist, Samuel Aranda, Rémi Ochlik (…). Fotógrafos que marcaram momentos da história.
  Com mais de cem fotografias para ver a exposição parece não chegar ao fim. As categorias vão mudando mas a qualidade mantém-se. Uma mulher comenta para a sua amiga: “focar, posicionar, esperar pelo momento. Eles não têm tempo para isso. É disparar e pronto”. O fantástico permanece, e a realização do talento destes fotógrafos torna-se ciente para muitos: “eu não era capaz de tirar uma fotografia assim”.
  Uma última esquina aproxima-se: uma última secção de fotografias. Mas não menos importante. Uma categoria diferente, uma sensação de alívio. Fotografias do mundo desportivo que parecem acalmar os olhos por um momento. Os corredores inundados de tragédias, de guerras e revoltas, de desastres naturais, de sinais da crise e de dependências chegam ao fim.
  As portas abertas continuam a indicar o caminho a seguir. O fim da exposição para alguns. O início para outros. O contraste mantém-se. A entrada parece inalterada, inundada de pessoas ansiosas de ver através da lente da câmara do fotojornalista. À saída quase ninguém. A vontade é de voltar para trás. Porque uma visita parece insuficiente. Porque parece haver sempre mais para ver.
  As portas abertas indicam o caminho a seguir. As escadas para a rua mostram que chegou ao fim. Nada parece ter mudado. A rua mantém-se inalterada, o Tejo continua a correr, a azáfama não pára.
  Mas os olhos vêem agora de outra maneira. 


Samuel Aranda

Alex Majoli

Laerke Posselt

                                                                 Adam Pretty                                                         

Mais informações em: http://www.worldpressphoto.org/


Por Mariana Cardoso 



domingo, 13 de maio de 2012

Adeus aos bastidores da música portuguesa


“Às vezes sinto uma espécie de claustrofobia musical. Se estou muito tempo preso a fazer a mesma coisa começa-me a faltar o ar”, é assim que Bruno Mira fala da sua relação tão estranha mas tão sua com a música. Actual vocalista dos The Fellow Man’s e dos Cast a Fire, o natural de Lisboa garante ser invadido por várias ideias ao mesmo tempo. Bruno Mira é um dos muitos portugueses que enfrenta o pequeno mundo da música em Portugal e que finalmente conseguiu sair dos bastidores para os palcos. O Gorgeous Green EP foi uma destas muitas ideias de Bruno Mira que acabou por ser a principal rampa de lançamento dos The Fellow Man’s.
“Not enough”, é esta a música escolhida para a abrir o concerto dos The Fellow Man’s na Fnac da Baixa-Chiado. Um fim de tarde quente, mais quente do que o habitual. Uma sala meio vazia, meio cheia. De um lado, um público curioso, do outro lado um público que já conhece e que já gosta. No entanto, tal como o titulo da música sugere: não é o suficiente. A recente banda portuguesa quer mais, muito mais. É por isso que Bruno Mira está totalmente dedicado a este novo projecto.
“É um prazer poder estar a tocar para vocês. Espero que passem um bom tempo connosco”, diz Bruno enquanto a sua boca esboça um sorriso de felicidade iminente ao ver que pelo fim da primeira música a audiência já se compôs e a sala do Café Fnac está bastante mais lotada. Sem ninguém perceber já estava muito mais gente a assistir ao concerto. Uns mais atentos dos que outros, mas a verdade é que na sala pairava uma harmonia musical que impossibilitava qualquer pessoa de se levantar em pleno concerto. Mesmo no meio da sala encontravam-se dois italianos. De olhos e ouvidos bem abertos observavam e escutavam tudo o que passava. “This is good. How is it called?”, diz um dos italianos para o outro. “The Fellow Man’s”, diz o amigo italiano, enquanto pega no CD que seguramente irá comprar e levar de recordação de Portugal. E assim, aos poucos e com muito esforço, se obtém o reconhecimento que esta banda portuguesa tanto fez por merecer. Segundo o próprio Bruno Mira, “quando há talento e trabalho a seu tempo vem o reconhecimento”.
 Eis que chega o momento de dar uma segunda oportunidade, ou seja, de ouvir uma segunda música e de ver se a qualidade da primeira se mantém. “Killed me for a while” é a eleita. Uma música de esperança, de força e de um renascimento desta Primavera. Esta força é, assim, uma alusão à força de Bruno Mira, à sua persistência no mundo da música, principalmente no mundo da música portuguesa. “É um mercado muito pequenino, é complicado. É um país pequenino, é normal”, refere o vocalista lembrando todos os portugueses que lutam por ter uma carreira na música mas que por alguma infeliz razão não o conseguem ou ainda não o conseguiram.
 “Temos mais duas canções para vocês. São ambas muito importantes para nós, tal como as restantes do EP. Fica aqui o convite para participarem connosco na última canção”, diz Bruno Mira enquanto começa a tocar os acordes profundos e melodiosos de “Best of me”. Uma música que basicamente incita toda a audiência a agir, a aproveitar o momento, o presente ao máximo, como se hoje foi o último dia das nossas vidas. É esta a mensagem que os The Fellow Man’s querem deixar aos futuros artistas portugueses: “que não se fiquem pelo talento, que trabalhem, que se esforcem. Quando há talento e trabalho a seu tempo vem o reconhecimento. É mesmo uma questão de tempo”. O vocalista da banda acredita na capacidade dos músicos de Portugal mas também acredita na máxima de que sem esforço nada se consegue.
 Eis que o breve concerto chega ao fim. “Sing with me”, que tal como o nome indica, é a canção escolhida para terminar em grande este que foi sem dúvida um bom concerto. Foram breves quarenta minutos. Mas foram quarenta minutos de boa música portuguesa. O tempo passou a voar, ou melhor, a cantar. Os The Fellow Man’s ilustram assim uma nova geração de artistas portugueses que querem mostrar o seu talento e que não têm medo de ser diferentes. 
Há que dar oportunidade, há que valorizar o que é nosso, e é mesmo isso que a Fnac tem estado a fazer. Todas as semanas inúmeros portugueses aproveitam a sua oportunidade num breve concerto na Fnac. Quem sabe no futuro os palcos sejam maiores e melhores. Agora o mais importante já foi conseguido: sair dos bastidores para os palcos, sejam eles quais forem.








Os mais curiosos podem saber mais em:
The Fellow Man's Official Page
Ouvir "Sing with me"



Por Nádia Vieira

sexta-feira, 11 de maio de 2012

"Cola-te aos Livros"

 Here’s to books, the cheapest vacation you can buy.
-Charlaine Harris


 Deixemos de lado os clichés de Domingo à tarde. É terça-feira à noite e o Parque está cheio de luz. Avançamos sem receio para nos perdermos por entre centenas de livros. As nove da noite do segundo dia da semana útil torna-se o cenário perfeito para fazer a típica visita à Feira do Livro de Lisboa. Um twist na suposta tradição de visita depois do almoço de Domingo. Ideia esta partilhada por centenas de pessoas que fazem com que andar pelos stands e folhear os livros se torne impossível à luz deste dia. 
 Mas à noite é diferente. Uma brisa quente sopra, e diz-nos que Maio chegou. A vontade de folhear os livros, e quem sabe até mesmo cheirar os mais antigos, é mais que muita. Estes são prazeres possíveis quando se visita a feira num horário menos óbvio. Apesar de estar longe de um deserto, perdemo-nos sozinhos por entre os stands, cedendo ao prazer de dar uma olhadela a todos os livros que queremos. Sem filas, sem multidões e com muito mais oportunidades de descoberta. Quebrar a rotina, mas acima de tudo, aproveitar tudo o que a Feira nos tem para oferecer. 
 Mais agradáveis surpresas nos esperam na Feira à noite. A "Hora H". Nos últimos 60 minutos antes do encerramento podemos encontrar livros seleccionados com ainda mais descontos, que podem ir até aos 50%. 
O conselho, para além da escolha do horário de visita, é o de arranjar um bloco e uma caneta. Anotar as escolhas literárias, pegar no mapa da Feira e tentar riscar todos os títulos da lista antes das doze badaladas. Depois, temos a noite toda. Para ler, ou, talvez que sabe, até dar um salto às esplanadas dos quiosques da Avenida da Liberdade, que lá nos esperam nestas noites de Verão antecipado.
 Por Andreia Pedro