Sábado, quatro da tarde. Tudo ou nada para fazer. Hora de tomar uma opção. A escolha de uma tarde fora da rotina. Um sábado que pede para deixar o sofá. E viajar até Belém. O rio Tejo serve como plano de fundo, e o Museu da Eletricidade como casa da 55ºedição da World Press Photo.
Chega finalmente a hora. O bilhete na mão,
a espera que acaba. As portas abertas indicam o caminho a seguir. Em frente e à
esquerda. Um lance de escadas e a exposição aos nossos olhos. A fotografia
vencedora do concurso marca o início daquilo que é uma viagem pelo
fotojornalismo. Uma mulher que segura um familiar vítima dos confrontos no
Iémen. O fotógrafo? Samuel Aranda. Uma imagem que, por mais cliché que pareça,
vale mais do que mil palavras. Uma imagem que deixa desde logo uma previsão
daquilo que se espera ao longo dos corredores.
As paredes roxas enchem-se de fotografias. Por temas, por categorias, por fotógrafos. Os olhos não saem da parede, não despregam das fotografias e não percebem como alguém consegue ter captado momentos tão únicos. Ao longo do caminho vêem-se as caras de surpresa, os olhares de indignação, a vontade de, por vezes, ignorar o que está na tela. Porque é demasiado. Os murmúrios voam pela sala. Uma mulher olha para o marido e diz: “isto vai dar pesadelos”. Uma jovem não hesita em afirmar: “a pessoa assusta-se!”. Não o é preciso seguir uma ordem, mas acaba-se por seguir a maré. As fotografias na parede dizem-nos para onde olhar, por onde ir. Em cada tela uma multidão de pessoas a ver. Os confrontos no Médio Oriente parecem ser o tema recorrente. Guerras, revoltas, manifestações. Aproximo-me de um homem que parecia indignado com tudo o que via. A mão no queixo, os olhos semicerrados. Perguntei-lhe o que lhe fazia confusão. Olhou para mim e simplesmente me disse: “é pena o acontecimento do ano ser a guerra”.
Mas basta andar umas quantas fotografias e o tema muda. Não para melhor. O tsunami e o terramoto no Japão marcam a sua presença na exposição. Uma mulher sentada a chorar no meio de destroços, uma família num carro a deixar a destruição para trás, um barco em cima de uma casa. Fotografias que não deixam ninguém indiferente. Nomes como Yasuyoshi Chiba, Koichiro Tezuka, Paolo Pelligrin, Lars Landqvist, Samuel Aranda, Rémi Ochlik (…). Fotógrafos que marcaram momentos da história.
Com mais de cem fotografias para ver a exposição parece não chegar ao fim. As categorias vão mudando mas a qualidade mantém-se. Uma mulher comenta para a sua amiga: “focar, posicionar, esperar pelo momento. Eles não têm tempo para isso. É disparar e pronto”. O fantástico permanece, e a realização do talento destes fotógrafos torna-se ciente para muitos: “eu não era capaz de tirar uma fotografia assim”.
Uma última esquina aproxima-se: uma última secção de fotografias. Mas não menos importante. Uma categoria diferente, uma sensação de alívio. Fotografias do mundo desportivo que parecem acalmar os olhos por um momento. Os corredores inundados de tragédias, de guerras e revoltas, de desastres naturais, de sinais da crise e de dependências chegam ao fim.
As portas abertas continuam a indicar o caminho a seguir. O fim da exposição para alguns. O início para outros. O contraste mantém-se. A entrada parece inalterada, inundada de pessoas ansiosas de ver através da lente da câmara do fotojornalista. À saída quase ninguém. A vontade é de voltar para trás. Porque uma visita parece insuficiente. Porque parece haver sempre mais para ver.
As portas abertas indicam o caminho a seguir. As escadas para a rua mostram que chegou ao fim. Nada parece ter mudado. A rua mantém-se inalterada, o Tejo continua a correr, a azáfama não pára.
Mas os olhos vêem agora de outra maneira.
As paredes roxas enchem-se de fotografias. Por temas, por categorias, por fotógrafos. Os olhos não saem da parede, não despregam das fotografias e não percebem como alguém consegue ter captado momentos tão únicos. Ao longo do caminho vêem-se as caras de surpresa, os olhares de indignação, a vontade de, por vezes, ignorar o que está na tela. Porque é demasiado. Os murmúrios voam pela sala. Uma mulher olha para o marido e diz: “isto vai dar pesadelos”. Uma jovem não hesita em afirmar: “a pessoa assusta-se!”. Não o é preciso seguir uma ordem, mas acaba-se por seguir a maré. As fotografias na parede dizem-nos para onde olhar, por onde ir. Em cada tela uma multidão de pessoas a ver. Os confrontos no Médio Oriente parecem ser o tema recorrente. Guerras, revoltas, manifestações. Aproximo-me de um homem que parecia indignado com tudo o que via. A mão no queixo, os olhos semicerrados. Perguntei-lhe o que lhe fazia confusão. Olhou para mim e simplesmente me disse: “é pena o acontecimento do ano ser a guerra”.
Mas basta andar umas quantas fotografias e o tema muda. Não para melhor. O tsunami e o terramoto no Japão marcam a sua presença na exposição. Uma mulher sentada a chorar no meio de destroços, uma família num carro a deixar a destruição para trás, um barco em cima de uma casa. Fotografias que não deixam ninguém indiferente. Nomes como Yasuyoshi Chiba, Koichiro Tezuka, Paolo Pelligrin, Lars Landqvist, Samuel Aranda, Rémi Ochlik (…). Fotógrafos que marcaram momentos da história.
Com mais de cem fotografias para ver a exposição parece não chegar ao fim. As categorias vão mudando mas a qualidade mantém-se. Uma mulher comenta para a sua amiga: “focar, posicionar, esperar pelo momento. Eles não têm tempo para isso. É disparar e pronto”. O fantástico permanece, e a realização do talento destes fotógrafos torna-se ciente para muitos: “eu não era capaz de tirar uma fotografia assim”.
Uma última esquina aproxima-se: uma última secção de fotografias. Mas não menos importante. Uma categoria diferente, uma sensação de alívio. Fotografias do mundo desportivo que parecem acalmar os olhos por um momento. Os corredores inundados de tragédias, de guerras e revoltas, de desastres naturais, de sinais da crise e de dependências chegam ao fim.
As portas abertas continuam a indicar o caminho a seguir. O fim da exposição para alguns. O início para outros. O contraste mantém-se. A entrada parece inalterada, inundada de pessoas ansiosas de ver através da lente da câmara do fotojornalista. À saída quase ninguém. A vontade é de voltar para trás. Porque uma visita parece insuficiente. Porque parece haver sempre mais para ver.
As portas abertas indicam o caminho a seguir. As escadas para a rua mostram que chegou ao fim. Nada parece ter mudado. A rua mantém-se inalterada, o Tejo continua a correr, a azáfama não pára.
Mas os olhos vêem agora de outra maneira.
Laerke Posselt
Adam Pretty
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